"Nada é. Tudo vem a ser."
Friedrich Hegel
Georg
Wilhelm Friedrich
Hegel
(Estugarda,
1770 - Berlim, 1831)
Filósofo alemão. Após
passar pela Universidade de Tubinga, instala-se em Berna como preceptor.
Nesta primeira época interessa-se pela teologia. Em 1796 escreve uma Crítica
da Ideia da Religião Positiva. Entre 1798 e 1801 é preceptor em
Francoforte e começa a interessar-se intensamente pela filosofia e pela
política. Recebe a influência das ideias políticas de Rousseau. Em 1801
instala-se em Iena, onde, em contacto com Schelling, adopta a sua
filosofia da natureza. Em 1807 publica a Fenomenologia
do Espírito e em 1812 a Propedêutica
Filosófica, que constituem uma introdução à sua doutrina, exposta
com mais amplitude na sua obra capital, Ciência
da Lógica (1812-1816). Em 1816 passa para Heidelberga como professor
e publica em 1817 um resumo dos seus ensinamentos intitulado Enciclopédia
das Ciências Filosóficas em Epítome. Em 1818 aceita a cátedra de
Filosofia da Universidade de Berlim, onde o seu ensino goza de um prestígio
crescente. Em 1821 publica Princípios
da Filosofia do Direito. Morre aos sessenta e um anos no decurso de
uma epidemia de cólera.
O sistema filosófico de
Hegel pode dividir-se em três partes: lógica, filosofia da natureza e
filosofia do espírito.
A lógica estuda o
desenvolvimento das noções universais das determinações do pensamento,
que são o fundamento de toda a existência natural e espiritual e que
constituem a evolução lógica do absoluto. Kant estabelece uma separação
infranqueável entre o espírito e a realidade: o noumeno
permanece inacessível ao pensamento, limitado aos fenómenos. Hegel
identifica o real e o racional, o ser e o pensamento, que se apoiam num
princípio único e universal: a ideia. Do desenvolvimento da ideia
resultam todas as determinações do ser. A ciência estuda este
desenvolvimento e a lógica determina as suas leis, que são a contradição
e a conciliação dos contrários. Toda a ideia tem três momentos:
primeiro apresenta-se (a tese); opõe-se a si mesma (a antítese); e,
finalmente, regressa a si mesma conciliando tese e antítese (a síntese).
O objecto da filosofia da natureza é continuar este desenvolvimento do
mundo real exterior à ideia.
A filosofia do espírito
tem, por sua vez, três divisões: 1) o espírito subjectivo, subdividido
em antropologia, fenomenologia e psicologia; 2) o espírito objectivo,
subdividido em direito, moral e costumes; e 3) o espírito absoluto,
subdividido em arte, religião e filosofia propriamente dita.
Estas três grandes
partes do sistema representam ao mesmo tempo os três momentos do método
absoluto: afirmação, negação e unidade de ambas. O absoluto é
primeiramente pensamento puro e imaterial; depois existência exterior ao
puro pensamento, dissolução do pensamento no tempo e no espaço (é a
natureza). Em terceiro lugar, o absoluto regressa da sua existência
exterior, da sua alienação de si para si; neste regresso converte-se no
pensamento que se conhece a si mesmo, que existe por si mesmo: o espírito.
O influxo exercido por
Hegel foi muito considerável, sobretudo no que se refere às consequências
práticas para a história e o direito que extrai da sua doutrina.
A ideia de que tudo o que
é real é racional condu-lo à seguinte definição: «A história é o
desenvolvimento do espírito universal no tempo.» O Estado representa a
ideia; é a substância da qual os cidadãos não são senão acidente; é
quem confere os direitos aos indivíduos, mas não para eles, mas para
chegar com mais segurança à realização da sua ideia. As lutas entre os
povos são procedimentos para a realização da ideia. A força parece
triunfar e, efectivamente, triunfa, mas é apenas o símbolo, o sinal visível
do direito. Esta concepção da história do direito conduz à negação
da liberdade individual, à glorificação do facto consumado, à divinização
do êxito.
O conceito de dialéctica
é básico para o conhecimento e a compreensão do pensamento de Hegel. A
dialéctica tem uma extensa tradição que vai até Platão. Mas no caso
de Hegel a dialéctica é tão importante que dá nome à sua filosofia: a
filosofia dialéctica.
A dialéctica expressa,
pela sua parte, a contradição
do mundo existente e, por outra, a necessidade de superar os limites
presentes com o propósito de uma realização total e efectiva da
liberdade e da infinidade. A realidade, enquanto dialéctica, está
submetida a um processo, é regida e movida pela contradição,
encontra-se internamente relacionada (é inter-relacional) e é constituída
como oposição de contrários. Assim, cada realidade particular remete
para a totalidade, para o todo, e só pode ser compreendida e explicada em
relação ao todo. Por isso, Hegel expressa isto de modo breve e preciso
na seguinte frase: «O verdadeiro é o todo».
Devido
a esta redução do ser ao pensar, a filosofia de Hegel, já idealista,
converte-se num idealismo absoluto. No fim de contas não se trata tanto
da redução do ser ao pensar como da interpretação do real, do ser,
como ideia ou razão. «Todo o real é racional», é outra frase de
Hegel. Segundo o próprio Hegel, «que o verdadeiro seja efectivamente
real unicamente como sistema ou que a substância seja essencialmente
sujeito expressa-se na representação que enuncia o absoluto como espírito,
o conceito mais sublime de todos, que pertence aos tempos modernos. Só o
espiritual é real».
Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831) é, com Platão, o mais aviltado de todos os filósofos. Ele que desejava afirmar o poder do negativo para tornar fluido o pensamento enclausurado de Kant, foi criticado por dizer tudo e seu contrário; sua grande ferramenta conceitual, a dialética, por meio da qual ele pretendia entender os caminhos do espírito em suas diversas encarnações (arte, religião, história, saber), viu-se caricaturada na mais do que famosa tríade “tese-antítese-síntese”; e, a partir de seu interesse pela luta de vida ou morte da qual surgem o “mestre” e o “escravo”, atribui-se a ele uma queda pela dominação...
ResponderExcluirEsta obra pretende fazer justiça a Hegel, filósofo da racionalidade vigilante, da liberdade concreta e da paciência do conceito. Ela aborda primeiro A ciência da lógica, depois a Fenomenologia do espírito e se interessa finalmente pela posteridade vivaz desse pensador complexo e incontornável que, após ter dominado todo o século XIX, viu sua influência confirmada no século seguinte: de Marx a Lacan, passando por Kierkegaard, Nietzsche, Kojève.